Por Gaba Serpa e Marina Fornazieri
Cásper Edição 35

Tudo pode mudar

Na BandNews FM, cada segundo faz diferença para levar ao ar o noticiário que busca atrair um público jovem

É PLENA MADRUGADA e o relógio marca 3 horas de um novo dia. Vai demorar mais outras duas ou três até que o Sol retorne à maior metrópole do Hemisfério Sul. Enquanto a esmagadora maioria das pessoas dorme, Pablo Fernandez, editor do noticiário matinal da BandNews FM, já transita rumo ao bairro do Morumbi, na zona sul paulistana. Responsável por “montar” o Jornal da BandNews que vai ao ar às 7 horas, o jornalista não se desliga nem por um instante dos acontecimentos dentro e fora do País. “A hora que chego muita coisa já aconteceu. E até a hora do jornal muita coisa ainda pode acontecer”, explica Fernandez. Como sugere o slogan da empresa, tudo ali é passível de ser alterado em um segundo. 

Numa emissora que funciona nas 24 horas diárias, 365 dias por ano, cada segundo conta. Mas ali o tempo é fatiado de 20 em 20 minutos. É nesse intervalo que são transmitidas as atualizações dos principais acontecimentos. Ao longo de 24 horas, esse é o ritmo de uma redação inteira, que trabalha para que tudo ocorra sem sobressaltos. Na redação jornalística, duas mesas com 24 computadores alinhados são ocupadas por equipes rotativas da emissora. Entre as funções, os profissionais atuam em quatro turnos na checagem de informações, edição de áudios, preparando as reportagens e atualizando as redes sociais. Para que tanta notícia chegue fresquinha ao ouvinte, a rotina precisa seguir à risca cada tic-tac dos ponteiros. 

Quem visita a redação da BandNews FM, logo se depara com um grande aquário. É naquele estúdio vedado por paredes de vidro que os âncoras assumem o controle dos microfones. Mas até chegar a esse momento da locução muito trabalho aconteceu. Até as 5 horas da manhã, o noticiário das 7 deve estar definido.  

Num dia normal, Pablo Fernandez já contatou cada uma das praças — jargão para cidades onde a emissora está presente — e levantou quais fatos serão publicados em rede nacional. O mesmo também é feito com o correspondente internacional da rádio, Felipe Kieling, radicado na capital inglesa. Além de São Paulo, 12 capitais brasileiras (Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Fortaleza, João Pessoa, Vitória, Goiânia e Manaus) e Londres compõem a rede da emissora. 

“Como editor do jornal, tenho que entender o noticiário como um todo. É uma loucura? É”, confessa Fernandez à revista CÁSPER. Em junho, a reportagem foi conhecer o trabalho de uma emissora de rádio noticiosa. O que se viu é bem mais do que um ouvinte pode perceber sintonizando a estação no rádio, na internet ou nos aplicativos. 

Colaboração é uma palavra-chave para a BandNews FM. De cada praça, os coordenadores do noticiário local enviam a Pablo as principais manchetes. Além deles, há colunistas, como Mônica Bergamo, jornalista formada pela Cásper Líbero, e Dora Kramer, que preparam seus próprios conteúdos e também comporá a programação que vai ao ar. Para a função que desempenha, o editor precisa ter um faro jornalístico: tendo as principais manchetes do País em mãos, ele decide por critério de relevância o que entra ou não no jornal. O formato também passa pelo crivo do editor: link ao vivo, uma sonora simples ou acompanhada de vídeo.  

TAMBÉM É CEDO quando Luiz Guilherme Megale e Carla Bigatto, dois dos três apresentadores do Jornal da BandNews, começam a trabalhar, ainda longe da redação. A essa hora, Fernandez já enviou aos âncoras o espelho do noticiário que vai ao ar em menos de duas horas.  

Sentar-se na bancada para apresentar um radiojornal tem lá seu charme, mas demanda uma boa dose de dedicação. Os apresentadores, por exemplo, não podem ficar alheios ao noticiário ao longo do dia, mesmo que não estejam na rádio. “Eu deixo a TV no mudo, ligo o rádio e vou seguindo portais pelo celular”, conta Carla Bigatto. “Sigo muito mais a concorrência, para ver o que estão dando e de que jeito”, acrescenta Megale.  

Não é incomum os jornalistas entrarem no estúdio tendo apenas “batido o olho” nas manchetes. Em um mundo bombardeado por notícias, “ninguém tem tempo” para ler a íntegra do noticiário, diz Megale. Antes de irem ao ar, o fechador do jornal já “encabeçou” — ou seja, redigiu a introdução das principais manchetes do jornal, usadas como guia para quem as apresenta. 

Com um jornal não engessado, os apresentadores têm mais controle sobre as propagandas comerciais, comentar notícias e interagir com os ouvintes. Estes passam o dia enviando informações sobre trânsito e interagindo com os âncoras. Essa é, vale ressaltar, uma marca da emissora desde sua concepção. Ao sintonizar, é comum ouvir um dos apresentadores lendo mensagens de ouvintes. Alguns são reconhecidos pelo nome ou pela foto de perfil.  

EXPLOSÃO OU COLISÃO AÉREA? Essas foram as primeiras hipóteses levantadas pelos ouvintes sobre o evento que abalou o País na corrida eleitoral de 2014. “Houve muita informação desconexa nas mensagens”, lembra Sheila Magalhães, âncora, editora-chefe e diretora-executiva da emissora. Ela estava no ar quando diversas mensagens atropeladas começaram a chegar no Whatsapp da rádio, sobre uma possível explosão em Santos. 

“Hoje, todo mundo tem um celular e manda de tudo para gente”, conta a editora-chefe da rádio e ex-casperiana. À medida que a apuração avançava, maiores eram os indícios de se tratar da queda de uma aeronave, com vídeos e fotos de destroços corroborando o fato. Uma ligação para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) confirmou a dimensão da cobertura: no avião que sobrevoava o litoral paulista estava Eduardo Campos, terceiro colocado nas pesquisas de intenção de votos para a Presidência da República. 

SE O TRABALHO NA RÁDIO é quase invisível para quem ouve notícias, há profissionais que ficam escondidos até mesmo dos colegas que estão todos os dias na rádio. Localizado em uma sala fora do espaço destinado ao estúdio e à redação fica o operador de um dos switchers — ou mesa de controle —, Alexandre Pombo. Não se engane: estar em outro ambiente não faz dele menos importante. 

Os jornais da BandNews FM são transmitidos ao vivo pelo Youtube. Já notou as câmeras que acompanham cada movimento dos âncoras e, de tempos em tempos, oferecem uma visão aberta do estúdio? Sem Pombo, a função ficaria comprometida. A entrada com som e imagem de colunistas ao vivo e entrevistas também seria impossível para quem acompanha o noticiário pelo Youtube. 

A BandNews FM trabalha com a ideia de não restringir o rádio ao espaço radiofônico. Embora pareça contraditório, fugir do tradicional dial permite que a emissora paulista siga o caminho da convergência digital: é rádio, é TV, é streaming. A programação da 96.9 FM no Youtube já é expressiva: “A retenção de público d’O É da Coisa, do Reinaldo Azevedo, é inacreditável. Em média, 30 minutos para cada edição”, conta Alexandre Bentivoglio, coordenador de mídias digitais, outro ex-casperiano e parceiro de bancada do próprio Reinaldo Azevedo. 

Outra característica que a rádio impõe a seus profissionais é a versatilidade: ninguém é repórter, exclusivamente — o que faz com que todos tenham de sê-lo, para além das funções que desempenham. Autonomia também é um atributo valorizado. Os âncoras têm à disposição uma mesa de controle própria, para permitir a entrada de sonoras, propagandas, trilhas e áudio dos ouvintes. “A operação da mesa dá muito mais controle e rapidez ao jornal. Ela vira uma extensão do seu corpo e fica mais espontâneo executar as ideias que surgem na nossa cabeça”, explica Sheila que, junto de Carla e Megale, forma o “rivotrio” do noticiário matinal, das 7 às 11 horas. 

A adaptação a novas mídias e novos formatos, à qual está submetida a emissora, faz parte da estratégia de não ficar para trás na disputa pelo público jovem. Mesmo a proposta de manter a redação e o estúdio visíveis, cercados por vidros, carrega um simbolismo caro à empresa de jornalismo. “As pessoas podem ver o trabalho do jornalista”, explica Felipe Felix. 

O jornalista revela que o “aquário” também ficou marcado por um dos dias mais tristes da rádio. Em 2019, o âncora Ricardo Boechat, figura carismática e símbolo do grupo Bandeirantes, morreu em um acidente trágico no helicóptero em que viajava, que caiu na ligação do Rodoanel com a rodovia Anhanguera. “O hall ficou cheio de gente. Ali era o lugar dele e as pessoas queriam ver”, conta o gerente de jornalismo da BandNews FM.  

Sheila Magalhães conta que muitos dos ouvintes começaram a acompanhar a rádio por conta de Ricardo Boechat e que a interatividade e atenção com os ouvintes teve grande influência do jornalista. Embora apresentador do principal noticiário da TV Bandeirantes, ele revelava seu lado descontraído na BandNews FM. 

O público da rádio é composto por pessoas entre 25 e 49 anos — jovem, se comparado a outras emissoras. O mesmo recorte se espelha também na redação e na linguagem adotada na rádio: “Com uma equipe jovem, o nosso público se vê representado ali”, ressalta Sheila Magalhães. Outra preocupação da rádio é aumentar a diversidade na equipe. “Tem pautado muito nossas últimas contratações. Temos pessoas de todo o Brasil aqui e assim buscamos trazer sotaques, culturas e perspectivas diferentes”, conclui Alexandre Bentivoglio — carinhosamente apelidado de “Voglio Bene”. 

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